sábado, 15 de maio de 2010

OS 108 ANOS DE CULTURA, TRADIÇÃO E MEMÓRIA DA ESCOLA ESTADUAL CONSELHEIRO RODRIGUES ALVES





Completando neste ano de 2.010 cento e oito anos de cultura e tradição, a Escola Estadual Conselheiro Rodrigues Alves tem os primórdios de sua existência ligados aos fins do século XIX, ao tempo em que a Lei nº 88, de 1892; autorizou a criação de Escolas Normais e Complementares nas cidades do interior. Foi o bastante para que Guaratinguetá passasse a sonhar com sua escola de professores, sonho este que só se realizou em 1902, quando foi transferido da Capital para esta cidade o Curso Complementar, até então anexo à Escola Modelo "Prudente de Morais".

As aulas tiveram início em instalações provisórias' no prédio ainda existente à esquina das atuais ruas Pedro Marcondes e Morais Filho. (Fig.1)



Em 1904 passaram a ser ministradas em prédio próprio, o palacete que fora residência do Visconde de Guaratinguetá e que hospedara a Família Imperial Brasileira. Adaptado para uso escolar pelo engenheiro e escritor famoso, Euclides da Cunha, já em 1906 formava ali a primeira turma de professorandos, em número de 47, paraninfados por seu diretor, Professor João Lourenço Rodrigues. (Fig. 2)



Tendo este palacete da já então Escola Normal se incendiado em 1916, enquanto se construía o atual edifício e que somente ficaria pronto em 1920, as aulas foram ministradas no "Flamínio Lessa", edifício recém-construído à rua Tamandaré. (Fig. 3)



Em 1932 a Escola foi ocupada durante a Revolução Constitucionalista, e em 1937 passou a ter como patrono o Conselheiro Rodrigues Alves. Datam dessa época, o Clube de Sociologia" Alberto Torres" e as memoráveis sessões e jornais do Grêmio "Rui Barbosa", além da adaptação de salas, destinadas ao Laboratório de Química e Sala Ambiente para História Natural, com materiais da extinta Escola de Farmácia e Odontologia, que funcionara no prédio da atual Prefeitura Municipal, antigo Teatro Carlos Gomes, inaugurado como Teatro Municipal.

Os anos quarenta, entre outras coisas, assistiram a alterações no nome do estabelecimento, que passou a se chamar Colégio Estadual e Escola Normal Conselheiro Rodrigues Alves. De 1952 ficou a festiva lembrança do cinqüentenário da Escola e da inauguração das placas das salas de aula, homenageando velhos mestres que muito contribuíram para que se elevasse o nome da Escola e da cidade, que se tornara a meca dos estudantes de toda a região vale-paraibana e do sul de Minas Gerais. Dessa época, não apenas as placas ficaram na memória da Escola, onde ainda hoje permanecem. Também restaram páginas evocativas e poesias, valiosos documentos para a história da Escala, escritos por ex- diretores, professores e alunos e hoje preservados com respeito.

Ainda em dezembro desse mesmo ano, a Escola passou a Instituto de Educação, sendo dotada de novos cursos e passando a funcionar em período noturno.

Não foram somente os decretos, os professores e os diretores que mudaram durante a década de sessenta. Também o clássico uniforme, de saia azul marinho e blusa branca, foi substituído por outras cores e modelos. Melhor sorte conseguiu ter o prédio, que conservou sua arquitetura original - marco urbano e cultural que contribuiu para que a cidade fosse cognominada a "Atenas do Vale do Paraíba".

Embora o prédio permanecesse o mesmo, outra reforma educacional trouxe muitas alterações na década de setenta. O estabelecimento passou a se denominar Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Conselheiro Rodrigues Alves, sendo extintos os cursos primário e secundário que passaram a integrar o Primeiro Grau, enquanto os cursos colegial e normal, passaram a constituir o Segundo Grau, profissionalizante. A nova pedagogia trouxe também o Centro Cívico e a Associação de Pais e Mestres.

Em 1977 comemorou-se, com muitas festas, os setenta e cinco anos do estabelecimento, tendo como pontos principais uma exposição de fotografias relativas à vida da Escola, feita no Museu Frei Galvão e a publicação de uma revista comemorativa. Memória importante para a Escola, a "Revista Comemorativa dos anos de Cultura e Tradição", que teve como coordenador o Prof. Hélio Fernandes Macedo e capa de Edílio Cipro. Com 104 páginas, ilustradas com fotos, desenhos e arte, é hoje um documento valioso para a história da Escola e da cidade, tanto pelo conteúdo de seus textos, como pela autoria dos mesmos, de ex-alunos, ex-professores, amigos e admiradores do estabelecimento, que se fazem presentes em depoimentos, relatos, lembranças, pesquisas históricas, poesias e "gente de nossa Escola", de ontem e de hoje. Uma Revista que levará para o centenário próximo, muito da alma dos primeiros tempos da Escola Complementar e da famosa Escola Normal...

Nos oitenta anos da Escola, intensa programação esportiva e cultural foi desenvolvida, iniciando-se com palestra proferida pelo Prof. João Rodrigues de Alckmin, ex-aluno, ex-professor e filho do saudoso mestre André Rodrigues de Alckmin, professor e diretor do estabelecimento. Em novembro, um grandioso desfile noturno teve a participação de todos alunos e no mês de dezembro, em uma homenagem do Museu Frei Galvão, foi realizada sessão lítero-musical no anfiteatro da Escola. Houve também a posse festiva do Centro Cívico e o "Primeiro Encontro dos Centros Cívicos", promovido pela Delegacia de Ensino, como divulgação e homenagem à Escola. Na ocasião foi distribuída aos presentes a monografia "Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Conselheiro Rodrigues Alves - 80 anos de cultura e tradição", publicada pelo Museu Frei Galvão.

Homenagem do poder público à Escola foi a sua declaração como monumento de valor histórico e arquitetônico para fins de tombamento e preservação", através da Lei Municipal nº1.873, de 26 de novembro de 1985. Dois anos depois, a 27 de julho de'1987, a antiga "Escola Normal de Guaratinguetá" teve a sua preservação assegurada pelo tombamento como monumento estadual, graças à sua arquitetura escolar, característica das primeiras décadas do século vinte.

A questão do incêndio de seu primeiro prédio, a antiga residência do Visconde de Guaratinguetá, só veio a ser esclarecida em 1986, quando da publicação pelo Museu Frei Galvão de "O incêndio da Escola Normal - 70 anos", de autoria do Prof. Benedito Dubsky Coupé, que pesquisou sobre o assunto, inclusive nos autos do processo do incêndio, fartamente documentado com fotos e depoimentos.

No final dos anos oitenta, a Ecola viu intensificada a vocação inicial de bem preparar professores, com a instalação, em 1989, do Centro Específico de formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM) - um curso tempo integral, com duração de quatro anos e bolsa de estudo, no valor referente a um salário mensal. O CEFAM que tinha por objetivo a melhoria do ensino, contava, no ano 1992, com 395 estudantes que se incluem nos atuais 3.000 alunos da Escola, que funciona 3 turnos, com cursos de primeiro e segundo graus, sob a responsabilidade de 144 professores. (Fig. 4)



Além de sua história educacional, dos prédios em que funcionou, do valor de seus professores, do destaque de seus ex- alunos na mais variadas profissões, a Escola também tem sua história paralela. Uma interessante reportagem publicada pela Folha de São Paulo, em 29 de dezembro de 1991, alertou o grande público para a lenda "do fantasma da filha do Visconde de Guaratinguetá que está completando um século". Refere-se a notícia à monografia, já com várias publicações, intitulada "Maria Augusta - a filha do Visconde", de autoria da Prof. Maria Isabella Maia Fabiano, ex-aluna da Escola e prima de Maria Augusta. Registra ainda a reportagem que alunos, professores e funcionários da Escola Estadual "Conselheiro Rodrigues Alves" dizem que o fantasma de Maria Augusta de Oliveira, morta em 1891, "assombra" o local até hoje, quando têm início as comemorações dos noventa anos da Escola.

Palestras, exposições, cursos, audições de piano, desfiles, inaugurações, pesquisas sobre a história da Escola e missas solenes trouxeram, durante todo o ano de 1992, muito público, música e alegria para os corredores, salas e o anfiteatro da Escola. Em outubro, a Secretaria da Educação do Estado transformou o estabelecimento em "Escola padrão", dentro do objetivo de melhorar o padrão de qualidade da nossa educação pública. No mesmo mês a Prefeitura Municipal de Guaratinguetá ali construiu uma quadra esportiva, ampliando as atividades dos alunos.

O ponto alto das comemorações, entretanto, ficou na responsabilidade da própria Escola, com a criação da Sala Memória, inaugurada a 7 de julho, na data do nascimento de seu patrono Francisco de Paula Rodrigues Alves, Conselheiro no Império e Presidente na República.

A proposta da criação de uma Sala Memória não está ligada a um saudosismo de antigos alunos e professores mas na necessidade de se preservar, dentro do histórico prédio, um lugar especial que possa transmitir e registrar para o futuro, os passos que a Escola vem percorrendo para manter seu objetivo de educação, dentro de uma tradição de cultura.

Para a sua organização foram reunidos objetivos do primitivo laboratório de química, troféus esportivos, álbuns de fotografias, livros, documentos e publicações sobre a Escola, sob a coordenação da Prof. Catarina Aparecida Vieira Vilela. Quadros de formatura das primeiras décadas do século, assinados por artistas como Ernesto Quissak, Rizzo, G. Gaensly e G. Falco, foram restaurados por Ana Cristina Pelúcio Andrade Almada, Regina Helena Pelúcio Andrade Almada e Sérgio Quissak, voltando a enriquecer o acervo da Escola, que chegará ao seu centenário, consciente de seu valor histórico e educacional.

Analisando-se a vida da antiga Escola Complementar em seus noventa anos de existência (Atuais 108 anos), conclui-se que, se muita coisa mudou durante esse tempo, muita coisa também permaneceu. Sua história é parte da história da cidade, é um pedaço de todos. Seu passado é presente na vida dos que caminham para o futuro, no dinamismo dos anos que se sucedem. Se um ex-aluno se detiver hoje nos portões da velha Escola, poderá estranhar seu atual nome, a grande quantidade de estudantes, o grande número de professores. Encontrará, porém, o mesmo prédio, a mesma cultura, a mesma tradição que acompanham a Escola desde o professor João Lourenço Rodrigues até à Professora Nísia Maria da Silva Néto. E se esse mesmo ex-aluno indagar onde estão seus antigos colegas; receberá do Mestre Eugênio Zerbini a resposta: "Eles estão em toda a parte, no mundo inteiro, em abundância! Nas Universidades, cátedras onde professam rebentos de nossa Escola; na Magistratura, honradas togas dignificadas por gente daqui; nas Constituintes e nos Legislativos, nomes que por aqui passaram; na Jurisprudência; na Medicina; no Clero; nas Forças Armadas, antigos discípulos nossos. Nas altas administrações do Estado e do País, membros que se orgulham de seu diploma de Guaratinguetá. E nas Letras? E nas Artes? Como em todos os setores científicos, quantos exemplos magníficos da sementeira lançada pelo eminente João Lourenço".



Nota - Nos desenhos de Tom Maia, os prédios onde funcionou a Escola:

1) Sobrado ainda existente à esquina das ruas Pedro Marcondes e Morais Filho, onde se realizaram as primeiras aulas da Escola Complementar.

2) Palacete do Visconde de Guaratinguetá, em obras de adaptação para abrigar a Escola Complementar, segundo fotografia da época. Destruído por um incêndio em 1916.

3) Escola Estadual "Dr. Flamínio Lessa", à rua Tamandaré, onde funcionou a Escola Normal, enquanto era construído o novo prédio, no mesmo local do palacete do Visconde de Guaratinguetá.

4) Prédio da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus "Conselheiro Rodrigues Alves", datado de 1920 monumento histórico e arquitetônico municipal e estadual.



Fontes de consulta

- Arquivo Memória de Guaratinguetá do Museu Frei Galvão

- MAlA, Thereza Regina de Camargo- Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Conselheiro Rodrigues Alves - 80 anos

de cultura e tradição. Guaratinguetá, Museu Frei Calvão, 1982.

- FABIANO, Maria lsabella Maia - Maria Augusta, a filha do Visconde. Guaratinguetá, Museu Frei Calvão, 1991. Monografia 102.

- COUPÉ, Benedito Dubsky - O incêndio da Escola Normal- 70 anos. Guaratinguetá, Museu Frei Galvão, 1986. Monografia 35.

- JORNAL Folha de São Paulo, 29 de dezembro de 1991. Folha Vale SP.

- REVlSTA Comemorativa do 75º aniversário da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Conselheiro Rodrigues Alves.

Fonte de pesquisa :  Texto reproduzido e adaptado  da Revista Comemorativa do 90º aniversário da EE Conselheiro Rodrigues Alves. Edição unica.
Obs: pequenas alterações constam em vermelho negrito.

2 comentários:

  1. É bom saber que a história da escola, que também faz parte da minha história, pode ser encontrada também na rede. Até então só poderia ser lida através dos livros e revistas dispostos nas bibliotecas. O marcador do blog "memória" terá por objetivo resgatar o passado da escola, as revistas, os textos, as homenagens e com certeza a história de todos nós.

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  2. Estudei nessa escola em 1969-72!! Quanto tempo!!

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